sexta-feira, 3 de setembro de 2010

mundos sob lentes macro (exposição fotográfica)

Lucia Maria Paleari
Sílvia Rodrigues Machado



Flor masculina de Croton glandulosus (Euphorbiaceae), de aproximadamente
4mm, evidenciando nectário com uma gota de néctar, composto de açucares
dos açucares frutose, sacarose e glicose. (Foto:L.M. Paleari)


A vegetação ruderal, conhecida pela maioria das pessoas como mato, é composta por um grupo de plantas bastante diverso. Em geral, as pessoas só se dão conta delas quando estão adensadas em terrenos baldios e plantações, de onde, quase sempre, são eliminadas com o uso de herbicida e capina com enxada.
Ao olhar descuidado da maioria das pessoas elas não apresentam atrativos. Por não possuírem valor ornamental e serem vistas como competidoras por nutrientes com espécies cultivadas, ou por atrapalharem a colheita, essas plantas são consideradas nocivas. Entretanto, nem sempre é assim. Diversos estudos já mostraram que áreas de cultura deixadas com vegetação ruderal não tiveram uma produção de alimento reduzida, quando comparada com a produção de áreas semelhantes, mas sem essa vegetação. Além disso, tais plantas ajudam a conservar o solo dando proteção contra erosão (perda de nutrientes), sol direto e perda excessiva de umidade.

Apenas algumas espécies de plantas ruderais merecem atenção com vistas à eliminação, a depender de onde estejam instaladas e do papel que desempenhem no local.

Croton glandulosus, a planta ruderal que é nosso principal foco de estudo, reúne uma entomofauna (fauna de insetos) minúscula e bastante diversificada. Quanto mais estudamos essa planta e os insetos que usam o seu néctar, pólen e folhas, mais nós nos surpreendemos. São formas, cores, estruturas inimagináveis, relações intrigantes. Em épocas secas, como a que estamos vivendo, muitas das plantas ruderais ainda florescem e servem de recurso alimentar a espécies como as abelhinhas Jataí da família Meliponinae.


Detalhe da flor masculina de Croton glandulosus (Euphorbiaceae), 624 vezes
maior do que o tamanho natural que é de aproximadamente 3,3mm (fotografia
em microscópio eletrônico de varredura, por Silvia Rodrigues Machado).

Se não trabalhássemos com equipamentos tão potentes para obter fotos que nos permitissem revelar e ver detalhes, jamais descortinaríamos tais mundos, inalcançáveis ao nosso olhar desnudo. E são essas maravilhas, retratadas com lentes macro acopladas à máquina fotográfica e também observadas e fotografadas ao microscópio eletrônico de varredura, que estamos mostrando nesta exposição. Além de Croton glandulosus, reunimos também algumas outras espécies de plantas ruderais e insetos a elas associados.

Lucia Maria Paleari
Silvia Rodrigues Machado
UNESP, Instituto de Biociências – Botucatu, SP.

Projeto Croton / Fapesp 08/52134-2


Até 02 de Outubro
De 3ª a 6ª, das 9 às 18 horas
Sábados, das 9 às 13 horas
Museu de Arte Contemporânea [MAC] Itajahy Martins
Av. Dom Lúcio, 755 – Botucatu - SP
















clique na imagem para ampliá-la

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Hábitos alimentares e ciclo de vida de insetos visitantes de Croton glandulosus


Por Lucia Maria Paleari

Croton glandulosus reúne uma entomofauna bastante diversificada, tanto no que diz respeito ao número de espécies, que são aqueles indivíduos capazes de se acasalar e de deixar descendentes também capazes de se reproduzir, quanto ao número de ordens de insetos, que são agrupamentos de indivíduos de diferentes espécies, mas que guardam certas características comuns que permitem diferenciá-los de outras ordens. Por exemplo, os besouros de diferentes espécies (ver figura 1) como o Apion sp., bicudinho que quando larva consome sementes de Croton sp., são agrupados na ordem Coleoptera. Apesar de possuírem diferenças, todos os coleópteros possuem certas características comuns, que permitem considerá-los e identifica-los como um grupo. Uma delas, bastante fácil de reconhecer, é o élitro. Este é o nome que foi dado às asas anteriores, que são relativamente duras e que cobrem o outro par de asas, estas membranosas e mais delicadas (figura 1A), que os besouros também possuem.


Figura 1 - Quatro espécies de insetos da ordem Coleoptera, grupo dos besouros, associadas a Croton glandulosus. No alto, à esquerda, indivíduo com as asas abertas evidenciando os élitros (par anterior) e as asas membranosas (par posterior); à direita Apion sp. e abaixo duas espécies ainda não identificadas por especialista, sendo o indivíduo da esquerda, um pouco maior do que 1,0 mm de comprimento.

Uma outra ordem associada a Croton glandulosus, com muitos representantes é a Hemiptera, indivíduos popularmente conhecidos como percevejos ou marias-fedidas (figura 2). As asas anteriores destes insetos, denominadas de hemiélitros, são diferentes das dos coleópteros. Elas têm uma parte mais coriácea (corium) e outra, na porção terminal, membranosa (membrana). Também é característica deste grupo possuir aparelho bucal sugador, ao passo que os besouros possuem mandíbulas, que são utilizadas para cortar alimentos.


Figura 2 – Representantes de espécies da ordem Hemíptera associadas a Croton glandulosus; na imagem superior esquerda as legendas indicam as partes que compõem as asas anteriores (corium e membrana) e o escutelo, estrutura característica dos hemípteros, que na família Scuteleridae é bem desenvolvido, como se pode ver na espécie Pachicoris torridus (imagem inferior do lado esquerdo), cujo escutelo recobre todo o abdome do inseto.

Alguns desses insetos adultos, das diferentes ordens, alimentam-se principalmente de animais, enquanto outros têm preferência por plantas. Mas, mesmo assim, é comum encontrar tanto os carnívoros como os herbívoros, fazendo uso do néctar que as flores masculinas de Croton glandulosus produzem nas glândulas localizadas na base interna das flores (figura 3) ou de produtos de outras estruturas glandulares, que são abundantes em Croton glandulosus. Uma das mais visitadas é a que se encontra no ápice dos pecíolos das folhas (estrutura onde se alimenta o besourinho da figura 1 – imagem inferior esquerda).

Figura 3 - Hypselonotus fulvus é o nome desse hemíptero sugador de frutos (imagem superior) de Croton glandulosus, mas que vez por outra toma um pouco de néctar (imagem inferior), substância rica em açucares.

Veja agora como acontece o desenvolvimento dos hemípteros, desenvolvimento que denominamos de metamorfose incompleta. Vou usar como exemplo, uma outra espécie que suga frutos de Croton glandulosus, o Agonosoma flavolineatum, que é policromático (poli=vários; cromático = cor). As fêmeas desta espécie possuem 3 padrões de cor e o macho apenas um, padrão este que tem um correspondente entre os 3 das fêmeas (ver figura 4).

Figura 4 – Representação do ciclo de vida de hemípteros (metamorfose incompleta = hemimetabolia), que passam pelas fases de ovo, ninfa e adultos.

As cigarrinhas também se desenvolvem dessa forma, mas os himenópteros (vespas, abelhas e formigas), coleópteros (besouros), os lepidópteros (mariposas e borboletas) e os dípteros (moscas) passam por um outro tipo de desenvolvimento denominado de metamorfose completa. Veja a figura 5.

Figura 5 – Representação da metamorfose completa (holometabolia), usando como exemplo os himenópteros, mas esse tipo de desenvolvimento acontece também com outros insetos, como as moscas e besouros.

Todos esses aspectos complexos da vida dos insetos ainda se somam ao fato de que nem sempre os indivíduos jovens de uma espécie consomem o mesmo tipo de alimento que os adultos. Veja a figura a seguir, que mostra a vespinha adulta da figura 5 alimentando-se de néctar produzido por Croton glandulosus. Essa mesma vespinha na fase de larva consumiu semente de Croton glandulosus.

Figura 6 - Vespinha adulta alimentando-se na glândula do ápice do pecíolo da folha de Croton glandulosus.

O besourinho Apion sp., que quando larva também se alimenta de semente dessa planta, na fase adulta utiliza-se de néctar. Diversos inimigos naturais de espécies que atacam plantações ou animais de criação, também podem utilizar alimentos diferentes quando se encontram na fase jovem e na fase adulta. Esse fato, somado a tantos outros que se referem ao desenvolvimento, aos hábitos de vida dos insetos, nos revela quão importantes e complexos devem ser os estudos voltados à biologia e ecologia dos inimigos naturais das espécies consideradas concorrentes do Homem, quando se trata de produzir alimento, seja ele de origem vegetal ou animal. Portanto, investir em controle biológico significa também investir em muito estudo, a fim de que possamos realizar ações eficazes para reduzir o tamanho de populações de espécies indesejáveis em culturas e criações de animais. Usar indiscriminadamente agrotóxicos não é apenas contaminar solos, mananciais de água e o próprio Homem, mas é matar antes de tudo, parasitóides e predadores. Estes, que são em geral muito eficientes na procura e ataque aos seus hospedeiros e presas, são também frágeis e sucumbirão até mesmo antes do que os indivíduos da espécie considerada “praga”.

Agradecimento especial: Quero agradecer à Drª Jocélia Grazia, grande conhecedora dos hemípteros e pessoa muito gentil, pela importante ajuda identificando as espécies dessa ordem de insetos, que encontramos associadas a Croton glandulosus. Agradeço também ao Dr. José Antonio Marin Fernandes pela identificação do Hypselonotus fulvus. Os sistematas, pesquisadores especialistas no estudo e classificação dos seres vivos, são fundamentais, porque sem identificar precisamente as espécies que são estudadas em qualquer área das Ciências Biológicas, todo o estudo deixa de ter significado.

domingo, 28 de março de 2010

O princípio básico das práticas de controle biológico

Por Lucia Maria Paleari


Súbito ataque foi o título de uma das fotos (abaixo) que inscrevi no concurso de fotografias do Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado no mês passado em Belém.


Larva consumindo mosca que procurava por alimento na flor (Foto: Paleari, L.M.)

Assim que a mosca introduziu seu aparelho bucal na flor para obter alimento, provavelmente néctar e pólen, a larva fez dela sua presa, num caso de predação. A larva que estava abrigada na flor de uma pequena planta ruderal não perdeu a oportunidade de obter alimento para continuar o seu crescimento e completar a metamorfose, que a faria se transformar em inseto adulto.

Um outro caso de predação, que já apresentei neste blog em 30 de outubro de 2009, foi o de um minúsculo hemíptero alimentando-se de um trips (lacerdinha), que vive nas flores de Croton glandulosus. E são vários os casos.

Veja a joaninha da foto a seguir.


Joaninha (Cicloneda sanguinea) predando pulgão
que suga seiva de Croton glandulosus (Foto: Paleari, L.M.)


Quase toda vez que pulgões alados chegam e rapidamente povoam com seus descendentes ramos de Croton, de onde eles sugam seiva, logo em seguida vêm as joaninhas que se fartam com tanto alimento disponível. Desta forma, elas também têm condições de se reproduzir. Para isso colocam ovos dos quais eclodem larvas, que se alimentarão de pulgões até se transformarem em pupas, que, depois de sofrerem algumas transformações, emergirão como joaninhas adultas. Esta espécie come tantos pulgões durante sua vida que o Homem passou a fazer uso do seu hábito alimentar, para se livrar de pulgões que sugam e prejudicam o crescimento, a floração e frutificação de certas plantas cultivadas. Na Alemanha, por exemplo, as joaninhas são vendidas para que as pessoas livrem as roseiras de pulgões e garantam que as plantas, que são ornamentais, produzam rosas formosas, para encher os olhos de beleza.

Essa é uma maneira de controlar o tamanho de populações de insetos indesejáveis ao Homem usando o que denominamos de inimigos naturais. Portanto, larvas e adultos de joaninhas são considerados por nós, seres humanos, como inimigos naturais dos pulgões, embora, eles apenas alimentem-se dos pulgões para viver, como nós nos alimentamos de diversos animais. Essa prática, de utilizar inimigos naturais de algumas espécies para reduzir suas populações e evitar prejuízos na produção de plantas cultivadas e de animais de interesse ao Homem, ficou conhecida como Controle Biológico. Dessa forma é possível evitar ou reduzir consideravelmente o uso de agrotóxico (ex. inseticidas, herbicidas), que não destroem apenas animais e plantas indesejáveis ao Homem, mas o próprio Homem, que pode sofrer muito com a ação desses produtos químicos no seu corpo.

Foi assim com o DDT (diclorodifeniltricloroetano), uma substância que durante a II guerra mundial serviu para matar piolhos que transmitiam ao ser humano bactérias do gênero Rickettsia, causadoras do tifo. Essa doença levou à morte grande número de soldados. Posteriormente, o produto foi amplamente utilizado, principalmente para matar pernilongos, também conhecidos como mosquitos ou carapanãs, do gênero Anopheles, que são transmissores dos protozoários causadores da malária. Porém, esse produto, que atua no sistema nervoso dos insetos e é solúvel em gordura, trouxe graves problemas ao ser humano inclusive a morte, porque o nosso sistema nervoso, que guarda muitas semelhanças com o do inseto, sob a ação do DDT sofre alterações que o levam a produzir estímulos de uma forma contínua, provocando contrações musculares, convulsões e paralisia. Dependendo da dose e do tempo que a pessoa ficou exposta a esse produto tóxico, que penetra principalmente pelas vias aéreas e digestiva, ela poderá ter uma insuficiência respiratória e morrer. O interessante é que insetos, que produzem muitas gerações em relativamente pouco tempo, conseguiram se tornar resistentes a esse produto, que deixou de ser tão eficiente. Mesmo com tantos e tão graves problemas que causa à saúde humana, e dos animais em geral, o DDT ainda é utilizado em muitos locais do mundo. Seguindo pelas cadeias alimentares o DDT pode acumular progressivamente nos corpos dos seres vivos consumidores (magnificação trófica). Como o ser humano alimenta-se de diversos animais de níveis tróficos abaixo, poderá concentrar DDT no seu corpo também por essa via e, consequentemente, agravar os problemas de saúde e o risco de morte.

Problemas como esses provocados pelos agrotóxicos em geral, são boas razões para diversos grupos de pesquisadores investigarem os inimigos naturais das espécies que implicam em prejuízos econômicos ou de saúde ao ser humano.

Na categoria inimigos naturais de grande interesse em programas de controle biológico estão também os insetos parasitóides. Eles podem se alimentar de outros insetos habitando o interior dos seus corpos, caso dos endoparasitóides, ou se manter na parte externa dos corpos dos hospedeiros, caso dos ectopasaritóides.


Lado esquerdo – Na foto superior, uma larva de Apion sp., besouro predador de sementes de Croton glandulosus, com uma larva ectoparasitoide alimentando-se de tecidos do seu corpo; na foto inferior, um adulto de Agonosoma flavolineatum, percevejo sugador de fruto de Croton glandulosus com ovos da mosca Trichopoda pennepis sobre o corpo (detalhe do lado esquerdo superior) e o mesmo indivíduo na imagem maior um pouco abaixo, dissecado para mostrar a larva da mosca que ao sair de um dos ovos passou a se alimentar de tecidos do corpo do percevejo. Lado direito – Na foto superior uma fêmea de Botanochara sedecimpustulata ovipondo e uma fêmea do endoparasitóide ovipondo dentro do ovo do besouro; no detalhe do canto direito, Emersonella sp. está sobre o pronoto de uma outra fêmea do besouro, com a qual anda de carona; na foto inferior a lagarta consumidora de folhas de uma planta ruderal (Hyptis sp.) está repleta de pupas de uma espécie de himenóptero ectoparasitóide. (Fotos: Paleari, L.M.)

Os parasitóides costumam ser bastante eficientes na redução do tamanho das populações de suas espécies hospedeiras. Nesse caso são selecionados e agem como excelentes agentes de controle biológico. Bactérias, fungos e vírus, denominados de agentes patogênicos, que causam doenças e podem matar insetos, também são bastante utilizados em controle biológico.

No entanto, falta de conhecimento e busca por resultados imediatos visando exclusivamente o lucro fazem com que muitos fazendeiros ignorem os resultados científicos já existentes sobre a eficiência de inimigos naturais e de agentes patogênicos, e insistam em poluir plantações, animais, solo e mananciais de água com agrotóxicos. Como os problemas de saúde e de morte que acometem os seres vivos, inclusive o ser humano, nem sempre são imediatos após o uso dos agrotóxicos, fica a ilusão do lucro sem prejuízos.

Sendo assim, já imaginou o que significam as borrifadas diárias de inseticidas, que tanta gente usa para matar insetos, baratas e traças em casa?

Por mais que as concentrações sejam baixas, são substâncias tóxicas, nocivas à saúde. Já para os insetos, é uma questão de relativamente pouco tempo até que estes se tornem resistentes aos produtos usados e obriguem o Homem a buscar por novas fórmulas de veneno que sejam mais eficientes.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Partilhando e ampliando o conhecimento

Por Lucia Maria Paleari
Fotos: Yuri Fanchini Messas



No mundo todo é comum acontecerem reuniões periódicas de cientistas e pesquisadores, para que possam apresentar e debater ideias sobre suas descobertas científicas. Os objetivos desses encontros são tanto de desenvolver o conhecimento das respectivas áreas, ampliando, aprofundando e articulando os diversos temas, como de pensar possibilidades de aplicação desses conhecimentos. Aplicar tais conhecimentos pode significar, por exemplo, produzir uma ferramenta útil, facilitadora da vida ou propostas de ações que nos conduzam por caminhos mais seguros, que não perturbem de forma drástica e irreversível os elos que se estabeleceram entre os homens nas diversas culturas mundo afora e entre a Terra e todos os seus habitantes, que se estabeleceram ao longo da história evolutiva do nosso planeta desde o surgimento da vida.
Inúmeros estudantes de graduação e pós-graduação integram-se aos pesquisadores mais experientes para o enriquecimento de suas respectivas bagagens de conhecimento e também para conhecer e estabelecer contatos com especialistas que poderão orientá-los em aspectos de seus trabalhos de pesquisa, indicar uma leitura importante na área de interesse e discutir um resultado obtido pelo estudante.


Congressistas participando do evento (à esquerda)
e estudantes acessando a internet (à direita)


Neste mês de fevereiro de 2010, de 7 a 11, aconteceu aqui em Belém, no Pará, o 28º Congresso de Zoologia.
Um congresso é um grande evento composto de palestras magnas, que são apresentações orais de interesse geral da maioria dos congressistas e minicursos, que são espaços de transmissão de conhecimentos de um determinado assunto que é preparado e apresentado por alguém experiente para um grupo de pessoas iniciantes interessadas.



Hangar – Centro de Convenções da Amazônia,
onde se realizou o Congresso de Zoologia


Um congresso abriga também diversos tipos de reuniões menores, os simpósios, que tratam de assuntos distintos e específicos, mas que estão relacionados de alguma forma, maior ou menor. Neste congresso de Zoologia há, por exemplo, o simpósio sobre morcegos (Quirópteros), sobre besouros (Coleoptera) e entomologia. Cada simpósio é desenvolvido por meio de palestras e mesas redondas, sendo estas uma forma de organização de especialistas para debate especialmente de temas polêmicos ou desafiadores.


Palestras


Embora o enfoque principal sejam os animais, não se pode deixar de considerar as interações entre eles e todo o restante do ambiente biológico, físico e químico. Outro aspecto que nos dias atuais não deixa de receber atenção nos encontros científicos diz respeito à educação, à necessidade de transmitir os conhecimentos que vão preparar jovens e adultos para melhor compreender e viver no mundo.


Exposição educativa organizada por pesquisadores do museu Emílio Goeldi


Na quarta-feira, ouvi uma história singela, que ilustra a importância do conhecimentos e da interação entre pesquisadores e pessoas que no dia a dia também observam, pensam, investigam e são capazes de produzir conhecimentos de grande valor para a vida.
Contou a doutora Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, da Universidade de São Paulo – USP de Ribeirão Preto, que o sr. Ildo Lubke, um produtor rural do Rio Grande do Sul, ganhou de seu pai, quando criança, uma colmeia de pequenas abelhas sem ferrão, abelhas conhecidas como Meliponinae. Desde então, o sr. Ildo cuidou e fez crescer a criação, que é responsável pela excepcional produção de frutas da sua propriedade. São as abelhinhas as responsáveis pela polinização das flores. Isso significa que ao buscar por néctar elas esbarram no estigma, parte feminina da flor, onde ficam grãos de pólen trazidos por elas aderidos aos pelos do corpo, principalmente os das pernas.
O sr. Ildo, que tem vários conhecimentos sobre o comportamento e biologia desses himenópteros, sabe da importância das pequenas abelhas sem ferrão que ele cria e que fazem a sua propriedade produzir mais frutas do que as de seus vizinhos. Os pesquisadores, por sua vez, trocando informações com pessoas como o sr. Ildo, podem tanto obter informações úteis para gerar linhas de investigação e até compreender certos resultados de pesquisa, como podem eventualmente ajudar o produtor com novas técnicas de criação e com conhecimentos científicos complementares.
Histórias como essa e resultados de estudos científicos são partilhados entre os congressistas em palestras, mesas redondas e oficinas. Mas há também nos congressos apresentações feitas por meio de pôsteres, ou painéis.


Visão geral da seção de apresentação de pôsteres


Os nossos trabalhos sobre Croton glandulosus foram apresentados na forma de pôster.
Outras coisas interessantes que há nos congressos são as exposições de fotos e de livros, que são vendidos e também auxiliam na divulgação do conhecimento científico.


Fotos selecionadas e expostas aos congressistas para votação



Exposição de livros de animais e de outros seres vivos


Nesses encontros acontecem ainda apresentações culturais da região onde o evento está sendo realizado. Na abertura deste congresso de Zoologia apreciamos uma apresentação de grupo local dançando Carimbó, música típica do Pará.
A partir das críticas recebidas, das sugestões e novas informações obtidas, os participantes, ao voltarem aos seus locais de origem (Universidades e Institutos de Pesquisas), certamente terão condições de aprimorar seus trabalhos. Nós, por exemplo, recebemos ajuda de alguns especialistas para a identificação de insetos que estão associados à Croton glandulosus e já estabelecemos contato e trocamos endereço com outros especialistas que se prontificaram a receber e identificar outros insetos e aranhas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quão pequeno ou quão grande?

Por Lucia Maria Paleari

Quão pequeno ou quão grande?
É relativo. Veja a foto abaixo, na qual eu seguro a parte apical de um ramo de Croton glandulosus.


Ápice de um ramo de Croton glandulosus com detalhede uma flor masculina aberta.
(Foto feita com uma lente macro - 100mm)


Perceba que entre a flor masculina que está aberta e a pequena mosca que coleta néctar na glândula do ápice do pecíolo da folha, estão os estigmas de uma flor feminina, com as extremidades curvadas para o interior. Agora olhe mais para baixo e verifique que, do lado direito, logo acima do meu dedo polegar, há um ponto claro, brilhoso. Trata-se de uma gota de néctar, que foi liberado por uma das duas glândulas do ápice do pecíolo, semelhante àquela na qual a mosquinha se alimenta. As extremidades dos meus dedos permitem que se tenha noção do tamanho relativo de cada componente dessa imagem. As flores são muito pequenas comparadas aos meus dedos, mas são bem maiores do que a mosca e as glândulas dos pecíolos.

E como tudo é relativo, podemos conseguir que essa mosquinha e as glândulas dos pecíolos, fiquem muito maiores. Isso não significa que elas crescerão, alterarão os seus tamanhos reais, mas, sim, que poderão ser percebidas relativamente maiores. Para isso basta uma ampliação da imagem.

Se dermos destaque à flor masculina, usando, por exemplo, um microscópio óptico, como aconteceu na imagem a seguir, veja o que acontece.



Flor masculina ampliada um pouco mais de 8 vezes, ao ser observada ao microscópio óptico


Agora é possível distinguir estruturas que não se podia distinguir na imagem anterior, como os grãos de pólen e o nectário floral. Note, que estas duas estruturas aparecem aqui maiores do que as glândulas do pecíolo da imagem anterior. Então, para manter o tamanho proporcional de todas as estruturas, isto é, manter quantas vezes cada uma é maior ou menor do que as demais, seria preciso ampliar em aproximadamente 8 vezes toda a primeira imagem e não apenas a parte da flor. Portanto, o dedo, a mosquinha e as glândulas do pecíolo teriam de ter tamanhos 8 vezes maiores do que aqueles que apresentam na primeira imagem. Desta maneira, poderíamos dizer que a mosquinha, as glândulas do pecíolo e até mesmo o meu dedo seriam relativamente maiores do que aparecem na primeira imagem, contudo, mantendo a proporção real que existe entre si. Isto significa dizer que se no ambiente a mosquinha fosse duas vezes menor do que a flor, ela manteria essa diferença com relação à flor em qualquer imagem ampliada.

Com o auxílio de instrumentos como esses que usei, a máquina fotográfica e o microscópio, a nossa possibilidade de observação de detalhes e registros do ambiente também se tornam relativamente maiores. Observamos bem mais do que os nossos olhos conseguem ver desarmados, sem instrumentos adequados, e vamos para além da memória biológica que faz parte da vida de cada indivíduo, registrando situações em diferentes meios como no filme fotográfico, no cartão de memória das máquinas digitais, no papel, no CD etc. Esses registros, com bem mais facilidade do que aqueles que temos nas nossas memórias individuais, podem ser compartilhados com milhares de pessoas mundo afora e perpetuados na história da humanidade.