sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Partilhando e ampliando o conhecimento

Por Lucia Maria Paleari
Fotos: Yuri Fanchini Messas



No mundo todo é comum acontecerem reuniões periódicas de cientistas e pesquisadores, para que possam apresentar e debater ideias sobre suas descobertas científicas. Os objetivos desses encontros são tanto de desenvolver o conhecimento das respectivas áreas, ampliando, aprofundando e articulando os diversos temas, como de pensar possibilidades de aplicação desses conhecimentos. Aplicar tais conhecimentos pode significar, por exemplo, produzir uma ferramenta útil, facilitadora da vida ou propostas de ações que nos conduzam por caminhos mais seguros, que não perturbem de forma drástica e irreversível os elos que se estabeleceram entre os homens nas diversas culturas mundo afora e entre a Terra e todos os seus habitantes, que se estabeleceram ao longo da história evolutiva do nosso planeta desde o surgimento da vida.
Inúmeros estudantes de graduação e pós-graduação integram-se aos pesquisadores mais experientes para o enriquecimento de suas respectivas bagagens de conhecimento e também para conhecer e estabelecer contatos com especialistas que poderão orientá-los em aspectos de seus trabalhos de pesquisa, indicar uma leitura importante na área de interesse e discutir um resultado obtido pelo estudante.


Congressistas participando do evento (à esquerda)
e estudantes acessando a internet (à direita)


Neste mês de fevereiro de 2010, de 7 a 11, aconteceu aqui em Belém, no Pará, o 28º Congresso de Zoologia.
Um congresso é um grande evento composto de palestras magnas, que são apresentações orais de interesse geral da maioria dos congressistas e minicursos, que são espaços de transmissão de conhecimentos de um determinado assunto que é preparado e apresentado por alguém experiente para um grupo de pessoas iniciantes interessadas.



Hangar – Centro de Convenções da Amazônia,
onde se realizou o Congresso de Zoologia


Um congresso abriga também diversos tipos de reuniões menores, os simpósios, que tratam de assuntos distintos e específicos, mas que estão relacionados de alguma forma, maior ou menor. Neste congresso de Zoologia há, por exemplo, o simpósio sobre morcegos (Quirópteros), sobre besouros (Coleoptera) e entomologia. Cada simpósio é desenvolvido por meio de palestras e mesas redondas, sendo estas uma forma de organização de especialistas para debate especialmente de temas polêmicos ou desafiadores.


Palestras


Embora o enfoque principal sejam os animais, não se pode deixar de considerar as interações entre eles e todo o restante do ambiente biológico, físico e químico. Outro aspecto que nos dias atuais não deixa de receber atenção nos encontros científicos diz respeito à educação, à necessidade de transmitir os conhecimentos que vão preparar jovens e adultos para melhor compreender e viver no mundo.


Exposição educativa organizada por pesquisadores do museu Emílio Goeldi


Na quarta-feira, ouvi uma história singela, que ilustra a importância do conhecimentos e da interação entre pesquisadores e pessoas que no dia a dia também observam, pensam, investigam e são capazes de produzir conhecimentos de grande valor para a vida.
Contou a doutora Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, da Universidade de São Paulo – USP de Ribeirão Preto, que o sr. Ildo Lubke, um produtor rural do Rio Grande do Sul, ganhou de seu pai, quando criança, uma colmeia de pequenas abelhas sem ferrão, abelhas conhecidas como Meliponinae. Desde então, o sr. Ildo cuidou e fez crescer a criação, que é responsável pela excepcional produção de frutas da sua propriedade. São as abelhinhas as responsáveis pela polinização das flores. Isso significa que ao buscar por néctar elas esbarram no estigma, parte feminina da flor, onde ficam grãos de pólen trazidos por elas aderidos aos pelos do corpo, principalmente os das pernas.
O sr. Ildo, que tem vários conhecimentos sobre o comportamento e biologia desses himenópteros, sabe da importância das pequenas abelhas sem ferrão que ele cria e que fazem a sua propriedade produzir mais frutas do que as de seus vizinhos. Os pesquisadores, por sua vez, trocando informações com pessoas como o sr. Ildo, podem tanto obter informações úteis para gerar linhas de investigação e até compreender certos resultados de pesquisa, como podem eventualmente ajudar o produtor com novas técnicas de criação e com conhecimentos científicos complementares.
Histórias como essa e resultados de estudos científicos são partilhados entre os congressistas em palestras, mesas redondas e oficinas. Mas há também nos congressos apresentações feitas por meio de pôsteres, ou painéis.


Visão geral da seção de apresentação de pôsteres


Os nossos trabalhos sobre Croton glandulosus foram apresentados na forma de pôster.
Outras coisas interessantes que há nos congressos são as exposições de fotos e de livros, que são vendidos e também auxiliam na divulgação do conhecimento científico.


Fotos selecionadas e expostas aos congressistas para votação



Exposição de livros de animais e de outros seres vivos


Nesses encontros acontecem ainda apresentações culturais da região onde o evento está sendo realizado. Na abertura deste congresso de Zoologia apreciamos uma apresentação de grupo local dançando Carimbó, música típica do Pará.
A partir das críticas recebidas, das sugestões e novas informações obtidas, os participantes, ao voltarem aos seus locais de origem (Universidades e Institutos de Pesquisas), certamente terão condições de aprimorar seus trabalhos. Nós, por exemplo, recebemos ajuda de alguns especialistas para a identificação de insetos que estão associados à Croton glandulosus e já estabelecemos contato e trocamos endereço com outros especialistas que se prontificaram a receber e identificar outros insetos e aranhas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quão pequeno ou quão grande?

Por Lucia Maria Paleari

Quão pequeno ou quão grande?
É relativo. Veja a foto abaixo, na qual eu seguro a parte apical de um ramo de Croton glandulosus.


Ápice de um ramo de Croton glandulosus com detalhede uma flor masculina aberta.
(Foto feita com uma lente macro - 100mm)


Perceba que entre a flor masculina que está aberta e a pequena mosca que coleta néctar na glândula do ápice do pecíolo da folha, estão os estigmas de uma flor feminina, com as extremidades curvadas para o interior. Agora olhe mais para baixo e verifique que, do lado direito, logo acima do meu dedo polegar, há um ponto claro, brilhoso. Trata-se de uma gota de néctar, que foi liberado por uma das duas glândulas do ápice do pecíolo, semelhante àquela na qual a mosquinha se alimenta. As extremidades dos meus dedos permitem que se tenha noção do tamanho relativo de cada componente dessa imagem. As flores são muito pequenas comparadas aos meus dedos, mas são bem maiores do que a mosca e as glândulas dos pecíolos.

E como tudo é relativo, podemos conseguir que essa mosquinha e as glândulas dos pecíolos, fiquem muito maiores. Isso não significa que elas crescerão, alterarão os seus tamanhos reais, mas, sim, que poderão ser percebidas relativamente maiores. Para isso basta uma ampliação da imagem.

Se dermos destaque à flor masculina, usando, por exemplo, um microscópio óptico, como aconteceu na imagem a seguir, veja o que acontece.



Flor masculina ampliada um pouco mais de 8 vezes, ao ser observada ao microscópio óptico


Agora é possível distinguir estruturas que não se podia distinguir na imagem anterior, como os grãos de pólen e o nectário floral. Note, que estas duas estruturas aparecem aqui maiores do que as glândulas do pecíolo da imagem anterior. Então, para manter o tamanho proporcional de todas as estruturas, isto é, manter quantas vezes cada uma é maior ou menor do que as demais, seria preciso ampliar em aproximadamente 8 vezes toda a primeira imagem e não apenas a parte da flor. Portanto, o dedo, a mosquinha e as glândulas do pecíolo teriam de ter tamanhos 8 vezes maiores do que aqueles que apresentam na primeira imagem. Desta maneira, poderíamos dizer que a mosquinha, as glândulas do pecíolo e até mesmo o meu dedo seriam relativamente maiores do que aparecem na primeira imagem, contudo, mantendo a proporção real que existe entre si. Isto significa dizer que se no ambiente a mosquinha fosse duas vezes menor do que a flor, ela manteria essa diferença com relação à flor em qualquer imagem ampliada.

Com o auxílio de instrumentos como esses que usei, a máquina fotográfica e o microscópio, a nossa possibilidade de observação de detalhes e registros do ambiente também se tornam relativamente maiores. Observamos bem mais do que os nossos olhos conseguem ver desarmados, sem instrumentos adequados, e vamos para além da memória biológica que faz parte da vida de cada indivíduo, registrando situações em diferentes meios como no filme fotográfico, no cartão de memória das máquinas digitais, no papel, no CD etc. Esses registros, com bem mais facilidade do que aqueles que temos nas nossas memórias individuais, podem ser compartilhados com milhares de pessoas mundo afora e perpetuados na história da humanidade.