O QUE É, O QUE É?
Tem nariz, que não é nariz,
é um rostro avantajado,
as pernas são mais de um par,
quando jovem fica escondido,
comendo até se fartar?
Depois dessa quadrinha uma dica apareceu em foto 3X4, que revelou o jovem besourinho, um pouco tímido e meio escondido no interior de uma semente, comida por ele durante sua fase de larva:
Em seguida, não poderia faltar um adulto garboso e desenvolto, que recém-saído da semente em que estava abrigado, parecia desfilar sob a luz da lupa:
Os autores desse estudo, Dr. Wesley Oliveira de Sousa e Dr.
Robert S. Anderson, descreveram, detalhadamente, de acordo com as regras
científicas, estruturas externas e internas que são próprias dos corpos de cada
uma dessas duas espécies. Eles acrescentaram a essas estruturas, que servem de
base para o reconhecimento de indivíduos dessas espécies, outros dados
importantes sobre a biologia e ecologia delas, melhorando assim a
caracterização de cada uma das espécies. Posteriormente, as estruturas mais
marcantes foram arranjadas no que se conhece por chave de identificação, e,
assim, servirão de referência a qualquer pesquisador do mundo todo, que queira ou
que precise identificar corretamente a qual espécie dessas duas pertence um
exemplar que lhe interesse.
Identificações científicas corretas de espécies biológicas
são extremamente importantes, imprescindíveis quando precisamos, por exemplo,
conhecer quantas e quais são as espécies existentes nos ecossistemas, para
avaliar a diversidade biológica desses locais e aprofundar estudos sobre a sua
importância para o equilíbrio dinâmico desses ambientes, bem como os impactos e
perigos que decorrem da redução de espécies, em geral por ações humanas
nefastas. Identificar a espécie de um animal, uma planta, um fungo, uma
bactéria ou um protozoário é fundamental também quando precisamos saber qual o
papel que determinada espécie desempenha no ambiente onde vive e se inter-relaciona
com outros seres vivos. Esse tipo de conhecimento é fundamental quando
almejamos utilizá-lo em situações práticas para poder prescrever um determinado
remédio que dê cabo de uma parasitose ou uma vacina para proteger o organismo
de uma infecção. Há ainda as situações em que precisamos reduzir a população de
uma planta ou de um animal indesejados, por meio de seus inimigos naturais
(parasitas, predadores) e patógenos (causadores de doenças) ou quando
precisamos usar espécies capazes de despoluir ambientes etc.
Os estudos que envolvem a descrição de espécies (Taxonomia) e a organização delas em grupos de acordo com os seus parentescos biológicos na árvore da vida (Sistemática) são fundamentais para que outros estudos nas mais diversas áreas como biologia, ecologia, agronomia, medicina sejam conduzidos e nos alimentem com conhecimentos que tanto podem estimular ainda mais a nossa curiosidade e entendimento sobre a vida, sua origem, organização e evolução, como fazer uso prático deles, para nos favorecermos em determinadas situações, sem causar prejuízos ao ambiente.
Antes de finalizar, eu não poderia deixar de expressar a
minha alegria de receber e poder ler esse trabalho, bem como de agradecer
imensamente, ao Dr. Wesley e ao Dr. Robert, pela singela homenagem prestada a
mim, dando o nome de Coelocephalapion paleariae ao besouro bicudinho de Croton
glandulosus, que coincidentemente nasceu para o mundo científico no início do
mês de novembro, assim como eu nasci para a minha família e para o mundo onde
construímos nossas histórias.
Para saber mais:
1. DE SOUSA, W. O. E ANDERSON, R. S. Two new Brazilian
species in the Coelocephalapion nodicorne species-group (Brentidae, Apioninae,
Apionini, Oxystomatina) associated with Euphorbiaceae. Zootaxa 5205 (3):
220–230.
https://www.mapress.com/zt/article/view/zootaxa.5205.3.2
2. COSTA, F. A. P. L.; EITERER, M.; PALEARI, L. M.
Classificação biológica: desafios na história da biologia. In: PALEARI, L. M.
et al. Experimentando ciência: teoria e práticas para o ensino da biologia São
Paulo: Editora da Unesp, 2011. p. 89-110.
3https://www.researchgate.net/publication/321480997_Classificacao_biologica_desafios_na_historia_da_biologia
Lucia Maria Paleari
lmpaleari@gmail.com